segunda-feira, 11 de maio de 2009

VAGALUMES... PIRILAMPOS...

Céu de pirilampos, dentro do quarto da casa flutuante de madeira... Solimões... Lamacento, bravo, misterioso... Grandioso... Sacolejo de água e barulho de grilo... Noite silenciosamente barulhenta... Quantidade de vida ao redor amedrontadora... Medo confortável... Medo bom... Tanta vida Deus do céu... E a gente também é vida... Então tudo é uma coisa só agora... Todos na mesma barca... Pensamento limpo, vivo, desperto... Lucidez... Consciência de grão de areia... Humildade... O amor existe realmente... Alguém está por trás de tudo isso... Não há mais dúvida... Nunca mais haverá... Certeza absoluta temporária... Poeiril... Volátil... Mas certa, soberana, plena... Por segundos.... Um céu particular homenageando o desvelar do maior segredo e o despertar infantil da fé... Simplicidade... Meu peito dói de arrependimento em algum dia ter ousado duvidar da plenitude da simplicidade... Da singeleza do olhar... Da beleza de um céu de vagalumes piscando só prá mim, escondida nos lençóis gelados naquele colchão plastificado e úmido. Cada respiração sonora e presente, cada passo, cada folha seca, cada vôo de peixe, de inseto, de pirilampo... Como são lindos meu Deus... Como imitam direitinho o céu... Constelações sinuosamente dançantes, rítmicas, transcendentes... Queria tê-los assim, numa caixinha prá levá-los aonde quer que fosse, tendo a certeza de que nunca perderia esta sensação na memória de meus esquecimentos... Maldade boba... Mas prá se ter paz será que é preciso fazer uma maldadezinha também? Queria fechar os olhos e voltar lá... Pegar minha canoa e sair a noite prá ouvir a sinfonia da mata... Pura... Plena... Soberana... Queria voltar prá esse colchão plastificado de onde arranquei toda minha fé... Toda minha alma... Viva, madura, certa, segura, corajosa... A mata é corajosa e assim aprendi a ser... Queria voltar lá. Viver lá... A gente precisa de tão pouco prá viver... Dói isso aqui... Por que nos distanciamos tanto da beleza das coisas... Da simplicidade da vida... Vagalumes dançando no teto... Vou voltar lá um dia com minha filha e mostrar a ela o lugar onde tudo faz sentido... Onde tudo se encontra... Onde a fé nasce e o arrependimento corrói as veias do coração, não deixando nenhum sangue ruim passar prá nossa cabeça nos fazendo duvidar da singeleza, da simplicidade e da beleza da vida... Um dia... Novamente... Aqui dentro... Vagalumes... Pirilampos...