sábado, 2 de janeiro de 2010

Serpente Multicor

Serpenteando entre meus pés molhados na poça uma cobra multicolorida tenta me dizer coisas importantes. Ela fala, mas não consigo ouvir o eco de seu movimento, tampouco o som da sua intenção... Tento sacudir meu véu colorido para me comunicar e avisar da falta de recursos sensitivos para detectar sua idéia, mas sinto... Que nada que eu faça conscientemente pode me fazer perceber... Então fecho os olhos e deixo-me vagar livremente pelos toques de seu corpo nos meus pés cansados. E assim, de olhos fechados, bem devagar, começo a sentir a água fria carinhando minha pele, limpando meu ímã de energias terrenas que me dissipam e me partem a alma em diversos cacos... Zilhares de caquinhos multicores que se espalham no ar em círculos seguindo o ritmo de uma música de alma... Ficar em cacos é movimento da alma... E movimento também a fortaleza, o carnaval, o velório, o futebol, a raiva, o desprezo, a ternura, a compaixão e a margem... Então começo a escutar o chocalho da cobra multicor num ritmo frenético, vitral e circular... Um mantra de sons e sensações vitrais coloridas e metálicas que me enviam a uma mandala virtualmente dinâmica... E assim então, meus cacos se alinham conforme o corpo da serpente... E me vejo em outra poça d'água... Carinhando outros pés... Despertando sensações em outros zilhares de cacos multicores de alma.