quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Chuva rara e rala de cerrado e seca

Como somos estupidamente frágeis. E como as relações se tornaram líquidas. Pueris. Não existe metafísica.  Choro com a chuva pra ninguém ver minhas águas. Cada dia mais dificil estar nesse mundo. Cada dia mais dolorido ver que nada do que vc faz fica. Tudo é poeira. O mundo ta chato pra caralho. E dizem que nós escolhemos encarnar nessa época.  Que época sinistra é essa onde as pessoas se comparam umas com as outras o tempo todo, onde o poder vale mais do que o existir, onde o so existir representa pobreza.  Que mundo é esse onde a doação de amor pra uns é obrigação e pra outros, nada. Uma besteira infrutífera e tola. Onde estão meus opositores? Os medrosos? Os hipócritas cagões? Os estúpidos? Os zumbis manipulados superficiais ligados em suas telas o tempo todo? Se desligar a tela, acabou o ser. Desnorteado. Sem rumo. Sem saber quem é. Preguiça de estar aqui nesse tempo de isolamento, provação e solidão. E se não houver nada depois disso, atesto hoje mesmo com minha assinatura energética, que não vale um centavo nessa terra de ninguém, que estamos perdidos. Jogados ao sabor do vento e do acaso... Até que algum acaso feliz nos traga uma centelha de nova ilusão sobre deuses, o além, o amor e as crianças.  E por que as crianças precisam crescer? Por que precisam nascer nesse mundo para serem adestradas como cães doces e inocentes para agradar a ordem? Por que pessoas se sentem melhor pisando nas outras? Que doença é essa? Que defeito é esse da nossa espécie? E como se vive nesse mundo sem amor? Como? Que esse setembro amarelo se suicide de uma vez e que nos reste a esperança de um outro tempo, um sonho outro, uma vida outra. Porque agora, meu coração só quer chorar e doer nessa chuva rala e rara de cerrado e seca. 

quinta-feira, 28 de março de 2019

Sobre esse clichê de ter alguém pra amar

Hj é sobre esse clichê de ter alguém pra amar e alguém pra deixar te amar. Me sinto dodói como quem sabe que não sabe e ainda não encontrou acesso e alento. Sou burra nessa arte e parece que enquanto essa burrice tá aqui, o que me aparecem são pessoas igualmente machucadas que não sabem amar e não têm a mínima ideia de que precisam se curar desse não saber. Sequer buscam... Buscar? O quê? Só há de se viver mesmo. Estamos aqui há milênios exatamente por não saber. E na solidão da madrugada chuvosa me percebo frágil e pequenina. Um dente de leão fofo e volátil que dança ao sabor do vento seco e frio ao minimo sinal de afeto. Afeto que tenho tanto a dar e que queria tanto também receber assim, no corpo, no toque, na pele e num turbilhão criativo do aqui e agora. Meu chakra oprimido é o sexual. Fujo pro coronário sempre que não posso expandir minha energia sexual. Então meu laringeo falha e adoece. Meu plexo fica aberto e vulnerável. A pineal calcifica mais e tenho tanta vontade de chorar e ter algo que não tive no passado. O raiz me chama à conexão como um imã. O cardiaco doendo doendo sangrando. Estar em terra de trogloditas. Pérolas aos porcos. Então me ressinto por ter escolhido vir pra esse estrangeiro terrestre pra fazer não sei o que não sei onde com não sei quem. E me arrependo. E me doi a alma por estar tão longe dos meus. As plêiades. E parece que agora pequenos flashes de memória lêem meus sonhos e me dizem que sou uma sequóia milenar. É que queria tanto que minhas almas gêmeas estivessem por perto. Não consegui amar nenhuma das que encontrei. Então me sinto um eremita com minhas cachorras, livros e internet. Resisto a não procurar conhecer ninguém ao vivo ou ao morto porque tenho tanta preguiça e medo de ferir e ser ferida pela milionésima vez. A casca vai ficando grossa porque o vento vai endurecendo a superfície. Mas por dentro, castelos de areia. Um anseio enorme por uma parceria honesta e sincera. E uma ignorância enorme em amar. Uma inaptidão. Uma coisa estranha e dolorida que não sei lidar. E esse caos mundial. E a necessidade urgente de acreditar no invisível. Tudo o que há. E se não existir nada, prefiro que o engodo me consuma e me preserve a sanidade. Ouço mensagens dos ETs todos os dias E se por um acaso nada disso for real, me retiro desse mundo atestando a infinitude de bilhares de vida sem propósito algum. Dói como uma bezetacil permanente. Como uma laringite calando a voz. Como um aceitar passivo e tosco de uma existência compulsória delegada a compartilhar respirações com trogloditas híbridos estúpidos. Essa convivência dá um trabalho hercúleo.  Então nunca me diga o que fazer. Não me diga aonde ir. Não sugira qualquer templo para frequentar ou odiar. Aprenda a calar. Aprenda a silenciar. Aprenda a observar e ouvir. Dois olhos, dois ouvidos, uma boca. Chateada e me sentindo muito muito só na caminhada. Que o caminhar seja leve, tolo e inútil como somente o privilégio da ignorância pode ser. Uma pílula de amnésia e um anestésico antimonotonia para que ignore meus sentidos e siga feliz com a manada rumo à morte e à autoalienação. Feliz velho milênio outra vez.

sexta-feira, 8 de março de 2019

Um buraco cortando a carne da gente...


Como eu quis chegar onde estou. Resolvida. Feliz. Acordando dando bom dia pras plantas, cachorros, pássaros e humanos. Acordar dando bom dia para os passarinhos. Por já ter ido em um lugar tão fundo onde a luz não chega e a dor sempre é. A velha sensação de não pertencimento que vira e mexe traz aquele vazio no peito, como se houvesse mesmo um buraco cortando a carne da gente no meio e fazendo olhar através. Como um buraco vazando para lugar algum. Esse vazio que volta com força em tempos de carnaval. A festa da carne, onde tudo se mistura, confunde e densifica. A festa em tempos de alegria forjada só mesmo para fingir que a autonomia pessoal é suficiente para determinar: só por hoje serei feliz. Só por hoje serei o que quiser. Só por hoje irei às ruas gritar que minha alma pode cantar e dançar quando bem entender. No carnaval. Vou prá rua gritar pro vento espalhar pro universo em espiral que o mal humano não me alcança, pois sou isso. Humano. Minha carne é meu guia. Minha carne é de carnaval, meu coração é igual. E na espiral decrescente do ralo para onde nossa energia doente, carente e impotente escoa, desce também nosso resto de dignidade. Porque apesar de para alguns sambar representar alguma dignidade, apesar dos pesares, para outros, sambar diante dessa miséria projetada para perpetuar a exploração de uns sobre outros, em carne viva, com veias abertas, com o horror pulsando nos olhos enlameados de chumbo e mercúrio... Não é possível sambar. Não é possível. Não dá. Diante do Fulni-ô amarrado e queimado vivo no Pernambuco... Um fulni-ô. Da mesma etnia dos xamãs que me benzeram há uns meses e me limparam a alma de maus espíritos e maus pensamentos. Um dos que me ensinaram uma dança ancestral tão forte e linda para Pachamama e de quem guardei um chocalho com uma coruja verde tão linda. Uma coruja linda que eles pintaram. E que na falta de referência e impossibilidade de aproximação outra, coisifica no chocalho essas coisas de alma e traz esse alento de gente antiga que sabe cuidar de terra e de gente, e que a gente criado no quadradinho, num "debaixo do bloco" de uma asa burguesa ignorante sequer imagina existir. Queimado vivo. Não posso sambar. Quando uma criança de 7 anos morre de meningite e pessoas comemoram porque foi cortado o "mal hereditário" pela raiz. Hereditariedade operária. Hereditariedade mesma que faz nossa terra continental estar dividida entre capitães do mato. Capitães hereditários dos contos da carochinha. Dos contos dos "felizes para sempre". Dessa classe média brega e imbecil que legitima esse poço sem fundo de desejos dos coronéis de merda que comandam o país e que boicotam com garras, presas e sangue no olho, qualquer possibilidade de um projeto de nação, qualquer chama de distribuição justa de recursos, qualquer esperança de equidade e justiça para todos os guerreiros originários, qualquer tanto assim de mais tranquilidade igual para todos. Legal é ter mais do que o outro e não que o outro tenha o mesmo do que eu. Se for igual prá todos, não ostento. E viver sem ostentar tira o sentido da vida. Não dá prá sambar. Desculpa frevo, maracatu, boi... Desculpa samba, amado samba... Minha carne é de carnaval, meu coração é igual. Trago no peito a dor e a alegria dos artistas. Mas  não dá mais prá sambar em tempos de genocídio indiscriminado. Não dá prá sambar quando um presidente borra botas acha que seu cargo lhe dá o direito de continuar sendo um adolescente inseguro, mimado, burro e burguês escondido atrás de uma rede virtual postando imbecilidades. Não dá mais prá sambar. E ponto. Me recuso. Quero saber onde estão nossas flechas e arcos. Quero saber onde está a tinta de guerra. Quero saber onde estão as ervas sagradas que evocam a gente toda que é sangue do nosso sangue que lutou aqui nessa terra brasilis. Porque estou pronta para a guerra. E não quero mais mostrar meu sorriso no carnaval para quem quer que seja, porque não quero mais dar pérolas aos porcos. Sorrir agora é conivência. Me recuso. Fico imaginando o dia em que multidões dessas que só o carnaval arrebanha se colocarem todas de braços cruzados em silêncio absoluto, observando os babacas que nos acham idiotas tentando nos comprar com algum farelo de pão, uma promoção de migalhas ou uma lasca de circo barato, balançar a cabeça e dizer: "Não queremos mais nada disso. Vocês têm duas opções: fujam para o subterrâneo ou para águas internacionais. Estão exilados de qualquer território." Mas então me dou conta de que eles sou eu também. Percebo que minha dor é a dor deles também. O mesmo vazio. O mesmo buraco que cresce quando chega o carnaval. A diferença está na forma de lidar com seus buracos. Alguns são monstruosos e devoradores, porque têm poder. Outros são mais modestos e, talvez com um pouco mais de poder, destruiriam uns três planetas com seu coração de buraco negro. No final das contas estamos exatamente onde deveríamos estar. Todos estamos exatamente onde deveríamos. Está tudo certo. Nossa casa está caindo como uma hora deveria cair. As vergonhas alheias diárias nos noticiários pondo em evidência exatamente toda a podridão que deveria emergir. Nada precisa ser feito. Há corda suficiente para o auto enforcamento coletivo. Está tudo correndo conforme as leis do universo. Action and reaction. Mas nesses tempos de carnaval minha tristeza não me deixa sambar. Nesses tempos, faço greve. Nesses tempos, evoco meus guias. Oro. Choro. E me recuso. A velha sensação de não pertencimento que vira e mexe traz aquele vazio no peito, como se houvesse mesmo um buraco cortando a carne da gente no meio e fazendo olhar através...