terça-feira, 30 de maio de 2017

Cabeças, ego, macarrão e faxina.


Trocando pessoas por livros e filmes facilmente. Com medo de estar sendo sugada por um furacão genético e cultural para ser um eremita conformado e confortavelmente instalado no quadrado que lhe compete a existência. E se paro prá pensar na boa sorte de se ter um quadrado para minha própria loucura, no meio dessa loucura simbiótica generalizada, me sinto feliz. Privilegiada. Direitos respeitados. Não tenho televisão em casa há pelo menos 13 anos e taí uma falta boa que não nos faz. Já temos tantas regras cagadas por outros o tempo todo, como se fosse possível pasteurizar a diversidade do ser e do existir numa grande massona de pizza mussarela e passar aquele rolo compressor com cheiro de alho nas nossas cabeças. Não rola. Cabeças são duras. Algumas de miolo mole e casca dura, casca mole de miolo duro, pensantes, criantes, aprendentes, ensinantes, inventantes. Não vai ter rolo. Não rola. Aqui dentro as regras são outras. E volta logo prá esse mar, oferenda!! Porque tenho sentido que nossa liberdade tá ameaçada. Gosto de caminhar à noite, mas já não me recordo em qual noite não fui abordada por policiais de foma intimidadora. Policiais com metralhadoras nas ruas fazendo o terror e se vc se assusta e diz: "Meu Deus moço, o que tá acontecendo?", então vc ouve um "operação padrão" como resposta. Não, não pessoal. Tem muita coisa mudando. Atenção!! Você dirige sempre com uma sensação de que o carro detrás está no seu banco do carona, numa pressão e violência absurda às vezes prá chegar logo no sinal vermelho, onde todos vão ter que parar. Não sei se eu é que tô ficando um pouco mais fora da casinha ou se essas coisas estão realmente se tornando comuns. Isso não pode ter virado o padrão sem a gente nem perceber. Tempos duros esses. E não sombrios pelos outros, mas porque todo o podre que cada um tem ta flutuando, à vista, sem maquiagem. E é difícil enxergar sem luz. Parece que anda tudo meio poluído, destorcido, nublado. E colocar luz em coisa feia e tosca dói. Finge de cego o olho. Analisa por outras perspectivas para deixar o ego bem aninhadinho, no colinho da mamãe urso. Por medo. Medo de não andar na linha. Medo de sair do script. Medo de ser livre e não saber o que fazer com a liberdade. Medo de ter que traçar o próprio roteiro. Medo de sair da inércia. Medo de quebrar as identidades que escravizam, aprisionam e que tanto atrapalham os entendimentos. Medo de mudar. Medo de sair de casa a noite prá ver a Lua. Medo de descer no gramado com o cachorro. Medo dos "cidadãos de bem" do lado de fora. Medo dos filhos se decepcionarem com o mundo cedo demais, quando são assaltados ou assediados numa esquina qualquer. Medo de olhar pro podre diluído num molho branco de macarrão cheio de larva de mosca doente com cheiro de iogurte estragado. Medo de não chegar água prá um banho antes de sair prá trabalhar. São esses os tempos. Parece que a medida do ego precisa se ajustar ao seu devido tamanho e, enquanto toda a sujeira não for lavada que se faça estado de calamidade humana. Que nenhum ser de telencéfalo desenvolvido saia de seu quadrado enquanto não terminar a faxina. E que o google possa captar as intenções das pesquisas e ser um sábio guru em coisas toscas e nebulosas para ajudar cada um em suas egotrips.

Queria uma passagem pro Tibet, porque la foi o lugar onde minha cabeça inventou que é calmo, leve, livre e protegido. Sei que o meu Tibet ta aqui em mim, e não lá. Sinto que meu coração fica mais mole a cada dia e tenho medo dessa velocidade, porque daqui a pouco não saberei o que fazer com ele. Botar ele num potinho com tampa vermelha de morango com fitinha poá. Não me excluo da condição tosca que inventamos prá nós, mas tem horas que me envergonho de ser humana. Não tem nada a ver com partido, corrente político-filosófica, país, temeres, lulas, bolsomerdas, polícia, coxinhas, mortadelas ou salames... Nada disso. O buraco é mais embaixo. É mais profundo do que se imagina em cada um.

Achava que discernir, refletir, aprender, ler e criticar eram benefícios. Mas sinto que quanto mais faço isso, menos adaptada consigo estar, menos sintonia e paciência tenho prás egotrips perambulando por aí sem nem intervalo prum lanche e um cafezinho que nem tomo. Então leio mais e vou até onde consigo manter meu coração inteiro e em paz. 

Vamos fazer o dever de casa aí, minha gente. Porque se a gente não fizer, o macarrão vai ficar pior, ninguém vai aguentar o cheiro e não vai nem poder sair de casa prá tomar um ar. Era só isso mesmo que eu tinha prá dizer.

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