domingo, 29 de agosto de 2010

Amor X Ego



Por que é que gente tem medo de amar? Medo da entrega, medo de enxergar que o outro não é o responsável pela própria felicidade? Medo de estar subjugado? Medo de estar aquém ou além? Medo de ser dominado? Medo de ficar com cara de bobo achando o amor o ser mais lindo do planeta? Medo de acordar de manhã enroscado no outro, de cabelo desgrenhado e olho inchado, sentindo o quentinho da pele e o cheiro natural do sono? Medo de uma noite maravilhosa ao som de uma música romanticamente brega? Medo de amar ser uma coisa meio ridícula? Medo de deixar o coração dominar a mente? Medo de cair e de se machucar? Medo de ceder? Medo de admitir as falhas? Medo de perceber que uma briga não é um duelo e que um recuo ou um ataque de beijos pode solucionar grandes problemas? Medo de sofrer? Afinal de contas, qual é o nosso problema? Por que lutar tanto contra o amor? Nosso ego deveria andar numa coleira, ao nosso lado, sob constante controle. Porque ele existe para garantir o amor-próprio e para isso deve nos acompanhar. Somente. O ego é uma merda porque exclui as possibilidades de transformação da alma e fortalece as muralhas de aço que vamos construindo ao redor de nós mesmos para encobrir as feridas da vida. E ainda reclamamos da falta de amor... Se quando ele bate à nossa porta tratamos de expulsá-lo veementemente em uma afirmação de absoluta dispensabilidade, inutilidade e estupidez. A covardia humana me assusta. E me entristeço em comprovar, mais uma vez, que nosso ego vive a travar uma eterna e estúpida guerra contra o amor.

Esconderijo



Vou me esconder. Fechar esse portão e pendurar um pano do exército de fora a fora prá ninguém enxergar minha perna lá da rua. Não tô em casa. Não tô prá ninguém. Gosto dos animais, de ver as formigas carregando as folhas verdes. Ganhei um cachorro, dei banho, tirei os carrapatos, escovei e fiz uma comida caseira prá dar de almoço. Mas a vizinha reclamou que ele latia demais. Tive de mandar embora. O cachorro foi embora. Meu filho também foi. E agora não posso mais cozinhar. Ele não podia esperar um pouco mais? Minha barriga dói e coça quando lembro que ele era eu. Nasceu daqui de dentro dessa barriga. E agora se foi. E agora não posso mais fazer comida. Como vou fazer feijão com essa dor que nunca pára de latejar aqui no meu peito? Como posso sorrir sem uma fita adesiva grudada nos cantos da minha boca? Como se sorri quando a dor é funda assim? Não gosto de gente. Só de bicho. Um dia arrumo minhas trouxas e fujo daqui. Fujo prá uma caverna. Vou juntar um dinheiro e fugir. Só o suficiente prá chegar no meu esconderijo. Vou cuidar dos cachorros, das plantas, dos gatos e dos papagaios. Não quero ninguém que é gente perto de mim. Porque gente é bicho ruim. E essa dor ainda pulsando aqui dentro... Onde estará meu filho, meu pedaço de minha alma? Onde estará agora que Deus decidiu levá-lo prá longe da vida? Prá longe da mãe? Meu filho, que a luz da manhã te proteja e que toda a natureza conspire para que tua natureza livre e criativa continue a brilhar perto das nuvens, dos bichos e do planeta por onde estiver agora. Ajuda tua mãe a sarar essa dor, meu filho! Ajuda porque não resta muito de vida na gente quando o sorriso se vai. Ajuda, filho, porque o quintal da tua mãe vai fechar. Vou botar um pano do exército de fora a fora prá espantar os clientes. E prá dizer a Deus que eu tô aqui escondida na caverna que inventei. Esperando te ver entrar barulhento pela porta com orquídeas e bambus que achara no mato, cheio de idéias prá enfeitar nossa vida...

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Maria Joaninha...


Joana é uma menina linda! Forte couraça, grande coração! É de menina o seu coração... Incompreensível a capacidade de caber tanta gente e amor num coração só... Grande mulher... Cidadã planetária, conterrânea de Júpiter com breve passagem pela Terra na imensidão do tempo e espaço infinitos... Lampejo de luz, alegria e vida! Chuva de meteoros como um dragão de fogo no céu... Imponente representação de grandeza de alma e pequenez de tolerância com a hipocrisia humana... Que espécie de criatura nos tornamos, criador? Não, não!!! Pára tudo! Pára esse mundo agora que Joana tá sofrendo... Sofrendo a falta das almas nobres e distantes, íntegras e singelas, puras de mente e livres de coração... Mas não há singeleza... Não agora... Porque um dragão quando se zanga pode queimar e soltar faíscas... Mas pode amar como ninguém jamais amou... Ah, minha Joaninha, irmã querida... Fica triste não... Quisera poder te pegar pela mão e pegar carona num meteoro errante desses qualquer no espaço a caminho do nosso planeta... Quisera ter metade da tua capacidade de amar indistintamente... E de ser tão honesta com a vida e seus princípios... Há de ser uma grande personalidade onde quer que vás... Mas lembra sempre, Joaninha, que a Terra crescerá com tua passagem. Não esmorece jamais! Porque um mundo muito bom e justo existe em algum lugar... E não há nada tão efêmero quando a vida na Terra! Fica em paz na tua essência! Porque algum dia... Voltarás prá casa, de todos os lugares, do agora e do sempre, cheia de alegria, estrada e histórias para contar!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Rir... Razão de viver....: O mundo é dos espertos...

Rir... Razão de viver....: O mundo é dos espertos...

O mundo é dos espertos...



Tudo se dissipa ao vento quando o assunto é mais profundo... Nada mais temeroso que o próprio eu... E não tente instigar o confronto... Poucos estão preparados... Poucos assumem os riscos... Poucos querem o real... Poucos querem o espelho que mostra a imagem visceral e pegajosa da carne... O externo é mais bonito... Mais tragável e, veja: Não sou muito mais bonito assim? Veja, meus olhos são lindos, azuis como o céu e mistificam minha alma... Pode olhar através deles... Vc não verá minha alma, mas a alma que quero que vc veja... Esse é o jogo. Assim é a vida. O mundo é dos espertos e bem sucedido é aquele que engana com a maestria de parecer sincero. Use a lógica! Assim é o mundo. E é melhor que vc aprenda a jogar, porque não há lugar prá inocência e ingenuidade. Não há lugar prá entrega. Não há lugar pra burrice. Não há lugar prá amar. Não seja burro! Esteja sempre alerta e engane, dissimule sempre, onde estiver... Porque o mundo é assim... O mundo... é dos espertos.
OBS.: Quero registrar aqui minha mais recente decisão: estou me transferindo prá Júpiter.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Depilação

Ao chegar em meu prédio reparo que abriu uma loja de depilação e imediatamente lembro dos esquecidos pêlos crescidos que já mereciam eliminação há algum tempo. Deixei minhas tralhas em casa e desci para me depilar. A loja estava fechada, com a janela semiaberta. Dei umas batidinhas no vidro para me certificar de que não havia ninguém... Nada... Quando me viro para ir embora uma bendita senhora de seus trinta e poucos anos (como eu, aliás) me aparece de repente na janela com uma cabeça benevolentemente escandalosa e um sorriso de plástico assustador dizendo: 'Olááááááááááááá"! Dei um pulo e me voltei ressabiada. Ela se desculpou pelas portas fechadas, mas como não havia aparecido nenhuma cliente naquele dia, ela resolveu fechar a porta (também não entendi...): "Mas já que vc apareceu, entre!!" - se não estivéssemos em 2010, diria que quase escutei um "nhééééééééééc" de porta de castelo mal-assombrado após a sentença. Diante do clima sombrio e da estranheza do lugar, digo quase por um instinto de sobrevivência que poderia voltar outro dia, que não queria atrapalhar, enfim... A senhora gentileza prontamente responde que será um grande prazer em atender me puxando pelo braço e gritando com a boca pro interior da loja: "Janeeeeeeteeeee! Tem cliente prá vc!!". Respiro aliviada, já que não seria depilada pela senhora gentileza do sorriso de plástico assustador, quando me aparece na porta do corredor a Janete. Uma alemã de quase dois metros de altura, cabeleira crescida até a cintura, bigodes, óculos, jaleco, luvas cirúrgicas e aparelho. Senti manifestações estomacais da minha última refeição, mas o que eu era afinal: uma mulher ou um rato? Janete me perguntou o que eu ia depilar com o timbre e a velocidade de seu conterrâneo Adolf Hitler, e eu disse instantaneamente em resposta: "Axila, meia-perna e contorno, senhora!!" Ela deu um irônico sorriso metálico de volta: " Ótimo! Vc já utilizou a cera egípcia?" Respondo que não, mas que se fosse quente tudo bem. Do Egito... Deve ser boa afinal... Ela abre a cortina de entrada do corredor e me conduz até a cabine dizendo: "Vc vai adorar!" Com um frio na barriga me deito na maca e digo que não vou mais querer depilar o contorno, só a perna e a axila. Ela franze as sobrancelhas e o bigode em um nítido questionamento e digo que melhor não, vou esperar mais uns dias, não está tão ruim assim... A contragosto, Janete vira-se de costas em direção à estante de artefatos macabros depilatórios e... Em um silêncio mortal, sob as gélidas luzes brancas fluorescentes vejo a silhueta da alemã passando a espátula na tal da cera egípcia e levantando o braço como quem levanta um punhal... Eu, de suvaco em riste, dou um pulo na maca e vejo seu movimento congelado no ar: "Você está passando bem? Aceita uma água ou um café?". Digo que não, obrigada, que foi apenas um soluço... Que poderia prosseguir... Neste momento lembro-me apenas do calor da cera em meu suvaco e do suor escorrendo pela minha testa, bigode e barriga (não necessariamente nessa ordem) e solto um uivo de pavor e pânico!! Ela pula prá trás raivosamente assustada: "Nossa, vc está meio nervosa, hein? A cera está muito quente?" Dou uma risadinha sem graça e digo que "Não, imagina! Só um pouco aquecida demais, não é?" Ela limpa o suor de seu bigode, puxa um banquinho e diz: "Então vamos aguardar um pouco!"... Silêncio infinito... Nenhuma pergunta prá quebrar o silêncio me vem à cabeça, então fecho os olhos e finjo que estou muito concentrada em mim mesma... Ela quebra o silêncio enrolando a espátula na cera pegajosamente quente e levanta novamente o braço como quem pica cenouras para um ensopado. "Agora deve estar no ponto!" - diz decidida. Lasca-me então a espátula no suvaco direito com a cera caramelizada deixando mil fiapos pelo ar e imediatamente tenta resgatá-los (os fiapos), como quem se livra de moscas... Fico estupafata olhando a alemã degladiando-se com a espátula em riste e os fiapos de cera egípcia no ar, vendo pouco a pouco sua cabeleira se tornando um verdadeiro turbante de cera. "Meu Deus!" - penso com meus botões - "Essa moça vai virar uma múmia e meu suvaco a Mata Atlântica! Preciso sair daqui!". Então interrompo a batalha dizendo: "Olha, Janete! Não precisa mais depilar minha perna, não, tá bom? Eu nem ligo prá depilação na perna, só queria mesmo era salvar o meu suvaco. O que me diz?" Ela vermelha, suada e ofegante diz: "Ah, não! Agora que já comecei, vou terminar, né? Quero dizer... A gente aqui tem muita experiência na área e gosta de fazer tudo com calma, devagar e bem feito prá satisfazer nossos clientes, a senhora me entende, né?". Elevo pedidos de paciência ao meu Santo Guerreiro Expedito e sucumbo covardemente: "Ok, Janete. Vamos terminar." Janete, a estas alturas de turbante, jaleco, aparelho e óculos egipciamente encerados, troca a espátula pela pinça e começa a puxar os fios remanescentes do meu suvaco, fazendo a gentileza de me beliscar a cada puxada de pêlo. Imaginei que na Idade Média esta deveria ser uma boa estratégia de tortura. Já estava perdendo a paciência quando ela dá por finalizado o serviço suvaquesco. "Agora as pernas" - diz ofegante e quase satisfeita, para meu sofrido alívio... Troca a pinça pela espátula, enrolando-a na gosma egípcia e quando vai retirar a espátula do pote, voa um naco de cera quente na minha coxa e na saia. Dou um pulo e ela imediatamente se defende: "Ai, me desculpa! Às vezes acontece essas coisas, né? Hehehe!" Agora a vermelha e suada de raiva era eu e digo que estou com pressa, que preciso ir embora e ela diz que terminará tudo em dois minutinhos mais. A mesma ladainha do suvaco se repete com as pernas, cera quente demais, beliscos com a pinça, fiapos de cera egípcia voando pela cabine e por fim, uma solução de álcool gel para fechar os poros. Só me lembro de sentir tamanha sensação de ardência quando dormi na praia há alguns verões passados... Já tava quase mandando a Janete ir passear na Alemanha ou no Egito, fazendo bom uso da gentileza, começo a me calçar para ir embora resignada, porém depilada (que tristeza), quando a senhora gentileza enfia a cabeça grande e benevolente na cabine perguntando: " E aí, gostou?" A alemã me olha de soslaio e digo que está tudo bem agora. Eu e minha solidariedade ridícula... Vai que a alemã perde o emprego, enfim... Saio da cabine com raiva, doída e triste, pergunto à senhora gentileza na recepção de quanto foi o prejuízo e vou embora de suvaco armado deixando-a com uma ficha de cadastro por preencher na mão e uma cara de interrogação no sorriso assustador.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Serpente Multicor

Serpenteando entre meus pés molhados na poça uma cobra multicolorida tenta me dizer coisas importantes. Ela fala, mas não consigo ouvir o eco de seu movimento, tampouco o som da sua intenção... Tento sacudir meu véu colorido para me comunicar e avisar da falta de recursos sensitivos para detectar sua idéia, mas sinto... Que nada que eu faça conscientemente pode me fazer perceber... Então fecho os olhos e deixo-me vagar livremente pelos toques de seu corpo nos meus pés cansados. E assim, de olhos fechados, bem devagar, começo a sentir a água fria carinhando minha pele, limpando meu ímã de energias terrenas que me dissipam e me partem a alma em diversos cacos... Zilhares de caquinhos multicores que se espalham no ar em círculos seguindo o ritmo de uma música de alma... Ficar em cacos é movimento da alma... E movimento também a fortaleza, o carnaval, o velório, o futebol, a raiva, o desprezo, a ternura, a compaixão e a margem... Então começo a escutar o chocalho da cobra multicor num ritmo frenético, vitral e circular... Um mantra de sons e sensações vitrais coloridas e metálicas que me enviam a uma mandala virtualmente dinâmica... E assim então, meus cacos se alinham conforme o corpo da serpente... E me vejo em outra poça d'água... Carinhando outros pés... Despertando sensações em outros zilhares de cacos multicores de alma.

domingo, 1 de novembro de 2009

UM EMPURRÃOZINHO NO SEU SORRISO


Quem disse que os japoneses não têm senso de humor? Essa comédia japonesa me fez explodir todas as lâmpadas de casa. Filme de 1997, do diretor japonês Kôki Mitani.

Para baixar, basta clicar no link abaixo.

TORRENTE E LEGENDA

(Atenção: é preciso ter instalado o programa utorrent)

Se está difícil rir, talvez esse filme ajude, pois o que ri com ele daria para iluminar todo o Distrito Federal durante quatro dias. Trata-se de uma comédia francesa deliciosa do diretor James Huth, produzido em 1998.

Para baixar, basta clicar no link abaixo.

TORRENTE E LEGENDA

(Atenção: é preciso ter instalado o programa utorrent)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A título de marolice: acho que sou um E.T

Anh.... A marola da mesmice... Como são fartas as possibilidades de se entediar com as conquistas e o enquadramento... Tudo tão fútil e mecânico. Tudo de plástico. Sem vida... A pior das invenções foi a etiqueta e as boas maneiras. Uma coleção de regras para excluir a vida real, o sangue, o vento nos cabelos e a música. A vantagem que há nisso ainda não consegui descobrir, mas é certo que a exclusão afirma a sensação de poder e superioridade de uns sobre outros... Comportamento um tanto quanto peculiar ao ser humano... Apesar da ciência disso, às vezes ainda me culpo por questionar tanto essas coisas e me sentir tão alheia ao mundo dos meus semelhantes. Acho que sou um E.T. Só queria mesmo era descobrir o telefone da minha casa...

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Mulheres maravilhosas!!!

A fundadora da Casa do Índio em Oriximinã me disse que ela não se aposenta porque gosta de trabalhar e porque se deixar o cargo, os índios choram... Engajada na luta pela causa indígena há 30 anos, ela diz que a lição mais importante que aprendeu no convívio com as diversas etnias foi a necessidade do ser humano de aprender a ouvir. Temos dois ouvidos e uma boca... Os índios sabem ouvir e assim adquirem sabedoria. Ela tem filhos, netos e idade, mas não se aposenta... Tem energia e paixão pelo seu trabalho... E prefere assim... Viva, ativa, lutando pelo que acredita... Linda, de bata vermelha indiana com flores bordadas e um coração maior do que olhos podem expressar... Ivânia tem 51 anos e cara de 35. Inacreditável!! Descolada, bem-humorada e idealista, trabalha no Sistema Único de Saúde há vários anos e participa ativamente de diversos movimentos sociais locais. Diz que sempre questionou as injustiças sociais, sem saber bem o motivo e que o primeiro reflexo desanimador de sua inquietação se traduziu aos 19 anos de idade, quando recebeu um abaixo-assinado do pequeno município onde trabalhava (e reclamava seus direitos com notoriedade) pedindo a sua transferência de cidade... A não-hipocrisia incomodava... E como! Valdimara quem o diga! De espírito forte, livre e marcante, acompanhou as causas sociais desde que se entende por gente e ainda adolescente queria porque queria entender que raios significava o tal do comunismo do qual tantos maldiziam e perseguiam... Mas ninguém respondia... Não se podia responder... Por um lado era bom que fosse assim, caso contrário ela teria se enfiado em uma guerrilha dessas muito nova, em nome do povo, dos excluídos e do bem geral da nação... Cinquenta e seis anos, cara de trinta e oito. Longas madeixas cacheadas, um senso de humor e alto-astral de dar inveja a qualquer psicólogo políticamente correto. Psicóloga, mãe de uma filha e dona de uma enérgica e grave voz que nunca se cala. Assim como estas três pérolas que tive o imenso prazer de conhecer, diversas mulheres maravilhas desse naipe estão por aí pelo mundo a mostrar a verdadeira essência da alma feminina. A força e a sensibilidade que o mundo pôde ver após anos de batalhas pela igualdade de gênero, que parece ser destruída cada vez que uma bunda dura de uma dessas mulheres-abóboras aparece na tv, parece triunfar silenciosamente enfim. Pena que isso não é notícia de tv, nem aparece nos programas de auditório. Pena que a imagem seja o valor do novo milênio. Pena que as verdadeiras mulheres estejam anônimas, dentro de hospitais, escolas, repartições públicas, ônibus e pelo mundo afora. Pena que nossas mulheres maravilhosas estejam assim, disfarçadas... Mas para alívio de minhas angústias femininas coletivas, elas são de verdade!
P.S.1: Para preservar a integridade das mulheres citadas no texto, criei nomes e lugares fictícios. O resto (o que interessa) é tudo verdade.
P.S.2: Digitei no google imagens "mulheres maravilhosas" e só apareceu melancias, abóboras e afins.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

VAGALUMES... PIRILAMPOS...

Céu de pirilampos, dentro do quarto da casa flutuante de madeira... Solimões... Lamacento, bravo, misterioso... Grandioso... Sacolejo de água e barulho de grilo... Noite silenciosamente barulhenta... Quantidade de vida ao redor amedrontadora... Medo confortável... Medo bom... Tanta vida Deus do céu... E a gente também é vida... Então tudo é uma coisa só agora... Todos na mesma barca... Pensamento limpo, vivo, desperto... Lucidez... Consciência de grão de areia... Humildade... O amor existe realmente... Alguém está por trás de tudo isso... Não há mais dúvida... Nunca mais haverá... Certeza absoluta temporária... Poeiril... Volátil... Mas certa, soberana, plena... Por segundos.... Um céu particular homenageando o desvelar do maior segredo e o despertar infantil da fé... Simplicidade... Meu peito dói de arrependimento em algum dia ter ousado duvidar da plenitude da simplicidade... Da singeleza do olhar... Da beleza de um céu de vagalumes piscando só prá mim, escondida nos lençóis gelados naquele colchão plastificado e úmido. Cada respiração sonora e presente, cada passo, cada folha seca, cada vôo de peixe, de inseto, de pirilampo... Como são lindos meu Deus... Como imitam direitinho o céu... Constelações sinuosamente dançantes, rítmicas, transcendentes... Queria tê-los assim, numa caixinha prá levá-los aonde quer que fosse, tendo a certeza de que nunca perderia esta sensação na memória de meus esquecimentos... Maldade boba... Mas prá se ter paz será que é preciso fazer uma maldadezinha também? Queria fechar os olhos e voltar lá... Pegar minha canoa e sair a noite prá ouvir a sinfonia da mata... Pura... Plena... Soberana... Queria voltar prá esse colchão plastificado de onde arranquei toda minha fé... Toda minha alma... Viva, madura, certa, segura, corajosa... A mata é corajosa e assim aprendi a ser... Queria voltar lá. Viver lá... A gente precisa de tão pouco prá viver... Dói isso aqui... Por que nos distanciamos tanto da beleza das coisas... Da simplicidade da vida... Vagalumes dançando no teto... Vou voltar lá um dia com minha filha e mostrar a ela o lugar onde tudo faz sentido... Onde tudo se encontra... Onde a fé nasce e o arrependimento corrói as veias do coração, não deixando nenhum sangue ruim passar prá nossa cabeça nos fazendo duvidar da singeleza, da simplicidade e da beleza da vida... Um dia... Novamente... Aqui dentro... Vagalumes... Pirilampos...

sábado, 25 de abril de 2009

O QUE NOS RESTOU?

O que é mais confortável? O que faz mais sentido prá vc? A correria cotidiana talvez remeta a pódiuns de status materialmente privilegiado para alguns... Para outros tantos não concede status, porém alivia as carências materiais e proporciona o justo gozo de pequenos prazeres, ocasionalmente... Para uns isto é suficiente. Para outros isto é mecânico e vazio... Mas o que importa o quão cheia de espaços vazios está a vida humana? Desde que a existência se tornou essencialmente o ato de reproduzir o que foi aprendido pelas gerações anteriores, pouco importa os mistérios da jornada humana no planeta e o sentido da existência. E isto realmente não tem muita importância no dia-a-dia. Do ponto de vista científico, houve grandes avanços nas descobertas de fósseis que comprovam nossa ancestralidade essencialmente negra, nas pesquisas de curas para epidemias e patologias crônicas; na velocidade de disseminação de informações, nas telecomunicações, na alta tecnologia de exploração do espaço extra-terrestre... Do ponto de vista psicológico, ponto do qual me atrevo a dar alguns pitacos por ser assunto de meu interesse e curiosidade de longa data, o inconsciente coletivo parece agir de forma magistralmente mecânica. A maioria dos dias são muito parecidos e o tempo vai passando com o reforço de nossa pequenez e impotência diante da sistemática da vida... Pensava que a vida não era assim, sistemática... Achava que poderia ser feliz um dia, plantando batatas, salsa, cenoura e alface. Vivendo da terra. O que mais nos seria tão mais necessário? O ser humano criou uma série de artefatos, coisas e costumes tão arraigados em nossas cabeças que perdemos nossa essência. Perdemos a relação temporal com o planeta, a relação de claridade e escuridão, a relação de pertencer ao planeta como criatura, como ser vivo.... De pisar com os pés descalços no chão e sentir a terra entre os dedos. De sentar embaixo de uma árvore e se sentir abraçado e protegido. De tomar banho no rio e sentir o cheiro dos minerais e ver as cores dos peixes... De ouvir o canto dos bichos e saber que horas são... De conhecer o formato da copa das árvores e isso ser uma referência de localização, tanto quanto uma placa de trânsito... De perceber a presença de algo ameaçador pelas costas por simples aproximação... Parece que nossos instintos nos traem o tempo inteiro... Nos enchemos de coisas e mais coisas o tempo inteiro... Sufocamos nossa alma com troços, informações, coisas e só o que nos retorna é uma vida vazia, com propósitos vazios, vagos, sem sentido... Emburrecemos. No decorrer de nosso aparecimento neste planeta fizemos uso de nossa inteligência, descobrimos a roda, a pólvora, a luz elétrica, as microondas, o foguete e a internet... Provamos ao mundo e a todas as criaturas o quanto somos bons e inteligentes. Homo sapiens sapiens... E agora... Toda nossa pressão parece ter esgotado enfim a capacidade de suporte do planeta... Sentimos calor quando deveríamos sentir frio, ou mais frio do que deveria, chove muito onde antes não chovia, onde deveria chover não chove... Onde tinha planta, tem concreto e onde ainda não há concreto, certamente, em breve haverá... E na cabeça de um cidadão simples, comum, pode às vezes vir como um lampejo de lucidez, um questionamento incidental sobre seus verdadeiros propósitos... Mas, o que é verdadeiro? Nietzchie se remexerá no além tumúlo ao ouvir tamanha idiotice, afinal, não existe verdade. Mas creio que, essencialmente, de alguma forma, deve existir algo que é de fato uma representação de nossa origem e do que deveríamos fazer bom uso por simples sensatez. Nossa origem é comum a de todos os seres, então o que nos distancia tanto da simplicidade da vida e das coisas? O que fizemos com a nossa existência? Por que viramos essas criaturas-coisas e nos enchemos de objetos? Podemos tentar sair dessa correria desenfreada que criamos e desacelerar nossos passos... Poderíamos tentar voltar ao campo, voltar à mata e lutar contra o andamento do mundo inteiro... Não seria tarefa fácil e aliviaria esta crise de propósitos de forma pontual... Antes, é claro, de sermos completamente rechaçados do ambiente natural pela fragilidade de nosso organismo. Definitivamente, não é assim que caminha a humanidade. Então poderíamos parar de correr e continuar a sobreviver nas sociedades que criamos... Ficar num marasmo com toda a demanda de informações e bombardeio de consumo relampeando nossas cabeças por todos as direções, tempo e espaço... Estaríamos fora da jogada... Porém cheios de ideais. O negócio seria conseguirmos ser felizes assim, cercados, por todos os lados, em todos os lugares, durante todo o tempo... Não vejo muitas alternativas e é com pesar que aqui declaro uma sensação de perda total... Perda da consciência, perda de motivos, perda de perspectivas e perda de esperança. Só não perdi ainda a vergonha. É tudo o que me resta. Talvez o que haja em comum a todos nós, mulheres e homens contemporâneos, independente do tipo de vida, ideais e crenças, seja apenas nossa solidão...

terça-feira, 24 de março de 2009

O EVANGELHO SEGUNDO SALATIEL



Sara casou com Abraão
num dia de santo rei.
Três dia após o casório,
Gandhi recebeu um e-mêi,
onde Agar comunicava
que a patroa emprenhada
deu a luz naquele mês.

Três reis magos lá chegaram
montando uma bicicleta
e entoando a marselhesa
sua canção predileta.
Quando avistaram Abraão
entregaram a saudação
do Saci, príncipe de Creta.

O rei D. Pedro levou
pra criança um banzai,
pra Sara um espartilho
e de presente pro pai
uma maquete da bastilha
que ele comprou em Brasília
na feira do Paraguai.

A criança era Jesus,
virtuoso e ativista.
Aos treze fugiu pra Cuba
pra se tornar comunista.
Transformava gato e boi,
e vinte anos depois
foi fichado na polícia.

Mas fugiu para o Brasil
no lombo quente d'um burro,
disfarçado de judeu,
cabelo grande e barbudo.
Quando apeou no sertão
botou pra correr o cão
dos arredó de Canudos.

Graduou-se à distância
em Oratória Funesta.
Perseguindo a vocação
fez um curso pra Profeta,
botou um roupão de 'nhagem
sem jóia, sem maquiagem,
sem riqueza e sem cueca.

Fez fama nas redondezas
pelas coisas que falava
dentro da mente de todos
seu perfil se agigantava.
E em sua prosa segura
o povo viu a figura
do Messias que esperava.

No sermão em Chorrochó,
mais de mil gente se aninha
ao redor do santo Cristo,
entoando ladainha,
pra ouvir que a terra dura
há de virar rapadura
e o pó virar farinha.

Falava ao povo pobre
que o mundo se escafedia,
que sobre o Cocorobó
a lua despencaria,
e a cabeça do pagão
entre as meada dum pão
o diabo comeria.

Um cangaceiro chorava
Abraçado ao seu fuzil
numa emoção tão grande
que chega a fome fugiu.
Nesse dia um aleijado
levantou emocionado,
mas o coitado caiu.

E a fama de milagreiro
Pelo sertão se espalhou.
Diziam que em plena seca
no céu azul trovejou,
e que apareceu nos galho
das árvores um orvalho
quando o santo espirrou.

Alguns levavam nas costas
uma grande cruz de enfeite,
outros cingiam na testa
um pouquinho de azeite.
Nesses dias de emoção
foi tanta fé no sertão
que choveu café-com-leite.
.............................................

[Fragmentos extraídos do cordel O Evangelho Segundo Zé Limeira, de Salatiel Ribeiro]

domingo, 2 de novembro de 2008

Iris - Bailarina Oriental

A consciência corporal plena...

domingo, 26 de outubro de 2008

C a b r a V a l e n t e



Vou contar o meu valor
por ser extraordinário,
e dizer meus possuídos
por ser também necessário.
Se de repente eu morrer,
quem ficar pode fazer
bem feito meu inventário.

Primeiro eu quero contar
o quanto sou valentão,
quando entro numa luta
é triste a situação:
faço a maior bagaceira
no fim saio na carreira
levando as calças na mão.

Eu já entrei numa briga,
foi um serviço pesado,
lutei com mais de cinquenta
e nem me vi apertado.
Veja o que me aconteceu
tanto o povo me bateu
como eu saí apanhado.

Uma noite eu fui ouvir
certo tocador de fole
na volta encontrei um bicho
e o peste quase me engole.
Numa carreira danada
cheguei com a calça pesada,
escorrendo um mingau mole.

Já briguei com um guerreiro
de fama reconhecida,
eu me debati na espada
foi uma luta renhida.
Detonei um granadeiro
e somente com o mau cheiro
a luta foi decidida.

Nunca temi valentão
sempre fui peso pesado,
nunca encontrei um barulho
para me deixar de lado.
Uma vez lá no sertão
fiz parar um caminhão
mas fiquei arrebentado.

Andei num navio de guerra
tempo de revolução,
o navio entrou em luta
eu me escondi no canhão.
O artilhero chegou
sua peça detonou
e eu sumi na amplidão.

Lá em cima nas alturas
eu gritei: arre diabo!
fui cair dentro dos mares
dessa vez quase me acabo.
Digo sem pedir segredo:
me borrei todo de medo,
mas sou um sujeito brabo.

(Extraídos de Teres e Proezas, Enéias Tavares)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A MORTE DO PORCO ELIAS NARRADA POR DEUS

Então tudo recomeça.... Quatro horas de luta, dor e desespero... Corre, meu filho! Foge, grita, tenta, tenta, tenta, Elias! Tenta, Elias! Luta, Elias! É inútil... Tua vida não te pertence... O que fizeste para receber tantos golpes de objetos pontiagudos e cortantes, Elias? O que fizeste para ver teus filhos observando teu corpo dilacerado em frangalhos? O que fizeste para nascer porco? O que fizeste para nascer porco, Elias? Vai, Elias, foge! Grita, foge, grita, chora, sofre... Vai morrer, Elias! Faz teu último protesto! Teu último pedido, Elias! Arrepende-te, Elias! Vai, rápido, antes que te matem todo! Antes que te acertem o cérebro. Diz, Elias, o que quererá de mim, teu Deus, na hora do fim que a ti designei? Diz, Elias. A mim, que acalmarei tua dor e tua agonia, que sentirei contigo teu último suspiro, que verei tua carne nos pratos mastigada por homens e cães... Ainda não acabou, Elias... Vai, corre prá direita agora, vai, Elias! Isso, Elias, por baixo da porteira, empurra com o focinho que cede... Vai, Elias! Luta! Vai, está quase! Olha prá trás que quase o caboclo te decepa o lombo! Acorda, Elias! Tá na hora de morrer, meu filho! Vai....... Assim...... Pronto...... Elias? ........ Pode me ouvir?....... Sente teus miolos pelos ares.........Arejando...... Pipocando........ Rodopiando....... Em órbita..... ao redor dos teus filhos.... Vê, Elias.... Que triste tua trajetória.... Não passa de um fantoche meu, Elias... ..Abaixa a cabeça pro teu Deus.... Junta teus miolos e pede perdão prá quem sempre te bateu de braços abertos..... Prá quem sempre te consolou com uma rasteira..... Prá quem sempre te afagou a cabeça com espinhos..... Prá quem sempre saciou tua sede com fel... Prá quem sempre te fez sofrer porque te ama..... Sabe quem é teu Deus agora, Elias? Pensava existir dois contrários..... Pensava sermos um no céu e outro no subterrâneo, não é mesmo? Vem, que teu Deus vai te consolar agora...... Teu Deus que te odeia e que te ama, que te fere e que te cura, que te morde e que te beija, que te vive e que te mata...... Vê, Elias: teu Deus em um só...... Deita-te em meu colo prá que eu te corte a alma em postas pro jantar..... Já é tarde..... Te amo, meu filho querido...... Descansa em paz.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Engenho D'alma

Banda brasiliense que surgiu em 2001 e, depois de um brevíssimo canto, extinguiu-se como um anjo talmúdico na presença do Criador




"...a nostalgia dos dias olvidados" S.R.

sábado, 21 de junho de 2008

"Já perdoei erros quase imperdoáveis, tentei substituir pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas inesquecíveis. Já fiz coisas por impulso, já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também decepcionei alguém. Já abracei pra proteger, já dei risada quando não podia, fiz amigos eternos, amei e fui amado, mas também já fui rejeitado, fui amado e não amei. Já gritei e pulei de tanta felicidade, já vivi de amor e fiz juras eternas, “quebrei a cara muitas vezes”! Já chorei ouvindo música e vendo fotos, já liguei só para escutar uma voz, me apaixonei por um sorriso, já pensei que fosse morrer de tanta saudade e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo). Mas vivi, e ainda vivo! Não passo pela vida… E você também não deveria passar! Viva! Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é “muito” pra ser insignificante."

Charles Chaplin